Event — Conferência-Festival Internacional (ConFest)

'África-Ásia, um novo eixo de conhecimento' Terceira edição

CHAMADA PARA O ENVIO DE PROPOSTAS por GRUPOS TEMÁTICOS  para a CONFERÊNCIA-FESTIVAL  DAKAR ÁFRICA-ÁSIA, UM NOVO EIXO DE CONHECIMENTOS

Dacar, 11 a 14 de junho de 2025

Organizado por
Universidade Cheikh Anta Diop (UCAD) 
Plataforma Colectiva África-Sudeste Asiático (CASAP)
Instituto Internacional de Estudos Asiáticos (IIAS)

Nova data-limite para submissões: 
25 de outubro

Instruções para o envio de propostas

Ao enviar uma proposta, será solicitado a seleccionar o tema que melhor se adequa ao seu interesse. O objectivo é incentivar diálogos transdisciplinares entre os participantes. Os grupos temáticos correspondem a recortes de pesquisa em voga e/ou emergentes no contexto global. Cada grupo temático foi elaborado seguindo uma perspectiva ampla, para torná-los os mais inclusivos possível sem perder sua coerência crítica e discursiva. 

Os grupos temáticos devem ser considerados como pontos de partida gerais para sua intervenção. A apresentação pode abordar apenas alguns aspectos do tema, ou até mesmo um só aspecto, já que o trabalho enriquecerá as outras contribuições e será enriquecido por elas. É possível que o seu tópico seja relevante para mais de um grupo temático ou formato, ainda assim pedimos que seleccione apenas um único grupo temático para a apresentação.

Como parte da nossa meta de desenvolver um "eixo de conhecimentos" África-Ásia, incentivamos propostas que abordem directamente as interações África-Ásia. Participantes que trabalham em contextos asiáticos ou africanos e que desejam fazer comparações e conexões entre os dois continentes também são incentivados a enviar propostas. Além disso, são fortemente incentivadas Intervenções que demonstrem um compromisso com a diversidade.

As notas sobre o contexto local incluídas na descrição dos grupos situam cada tema no ambiente local e regional da Conferência-Festival: Dakar, Senegal, África Ocidental e indo além, incorporando o Atlântico. Não é necessário que a proposta esteja directamente relacionada a essas realidades locais, pois uma variedade de actividades promovidas pela conferência ajudará a estimular conversas transregionais e também a fundamentar as preocupações globais nos ambientes locais de Dakar/Senegal/África Ocidental/Atlântico.

Os tópicos podem ser explorados por meio de vários formatos, incluindo artigos, painéis, mesas-redondas, pósteres, bem como mídias audiovisuais, ou outras. Serão também bem-vindos, os formatos inovadores e experimentais, sugestões de atividades, workshops e exposições de pequeno porte, que poderão enriquecer a troca de conhecimento e a dimensão presencial do evento. 

Estamos ansiosos para acolhê-los nesta enriquecedora experiência de colaboração académica, cívica, local-global e inter-regional.

Agrupamentos:

  1. Homem-Natureza-Tecnologia: Interacções e respostas
  2. Hegemonias geopolítico-económicas: Cartografias e historiografias
  3. Globalização económica: Prosperidade ou sofrimento?
  4. O papel das comunidades locais: A sociedade contra os Estados e as corporações?
  5. Criação de conhecimento: Instituições, objectos, propriedade cultural
  6. Artes, média (digital) e cultura: Criatividades, Contestações e Colaborações
  7. Ontologias múltiplas: Religiões, religiosidades, filosofias e idiomas 
  8. Negociação das margens: Poder, agências, representações, resistências
  9. Paisagens alimentares: Cultivo, meios de subsistência, gastronomia, intercâmbios agrícolas e culturais, apropriações
  10. Bem-estar, Desporto (futebol!), Medicina, Bem-estar na morte 
  11. "Pan-africanismo", "Espírito de Bandung", Futuros do "Sul Global" e a Nova Ordem Mundial
  12. "AfricAsia" em um mundo emaranhado: Migrações, Diásporas, Crioulidades 

 

Grupo 1.  Homem-Natureza-Tecnologia: interacções e respostas

A transformação do planeta — desertificação, derretimento das geleiras, recuo dos litorais e muito mais — tem sido acelerada pela exploração humana agressiva, incluindo actividades como mineração, engenharia costeira, agricultura de monocultura, projectos de infra-estrutura, testes nucleares, exploração espacial, engenharia genética, inteligência artificial (IA) e outras. Paralelamente secas e inundações catastróficas, bem como emergências de poluição do ar e da água, estão se tornando a norma global.

Neste grupo temático, convidamos todos a explorar questões associadas às interacções entre o ser humano, a tecnologia e a natureza, com foco em contextos asiáticos e africanos. Os tópicos a serem abordados incluem vulnerabilidades ecológicas e seu impacto no futuro humano — secas, inundações e outras formas de degradação ambiental — além do papel das novas tecnologias na transformação das sociedades e do meio ambiente.

O tema também abrange questões geopolíticas decorrentes da exploração ecológica e de governação, tais como plataformas de vigilância, militarização, regulamentação, coalizões/alianças e competições internacionais, e como essas interacções afectam as questões de sustentabilidade e as necessidades humanas e sociais.

Para este grupo temático buscamos propostas que abordem essas complexas interacções e ofereçam novas perspectivas sobre a relação entre tecnologia, governanação e sustentabilidade ecológica.

Contexto local

O continente africano como um todo e a região do Sahel Ocidental/Norte da África, em particular, estão sofrendo transformações ecológicas causadas por intensa actividade humana, incluindo o esgotamento da reserva de peixe nas costas do Senegal e da Mauritânia, a superexploração dos solos do Sahel pela agricultura industrial, a extracção ilegal de madeira e o desmatamento, que contribuem, sensivelmente, para a crescente desertificação. A região foi vítima de indústrias extractivistas de mineração, petróleo e gás, que muitas delas pertencem a conglomerados multinacionais, inclusive da Ásia. Desenvolvimentos políticos recentes, como a formação da "Aliança dos Estados do Sahel" e a eleição do novo presidente do Senegal, têm o potencial de redefinir o equilíbrio de poder na região. Ao mesmo tempo, o surgimento de novas infra-estruturas digitais levanta importantes questões sobre soberania digital.

Quais são as implicações dessas tendências? Como elas afectam as populações locais e quais são as estratégias adoptadas pelas diversas partes interessadas? De que forma os cidadãos têm dado resposta às vulnerabilidades ecológicas e económicas que acompanham essas transformações?

Grupo 2. Hegemonias geopolítico-económicas: cartografias e historiografias

Para discutir as conexões inter e intracontinentais, hemisféricas e marítimas na história global, é essencial examinar a dinâmica de poder entre actores asiáticos, africanos, do Oriente Médio, europeus e americanos em diferentes períodos e contextos. Os imperialismos históricos e os sistemas económicos transnacionais continuam a moldar as cartografias asiáticas e africanas, incluindo o impacto prolongado do imperialismo europeu, da intervenção política e económica japonesa e, mais recentemente, chinesa, além da ordem neoliberal promovida pelos EUA

A crescente multipolaridade desses sistemas hegemónicos é uma questão de alta relevância, assim como a análise da própria hegemonia e suas interacções com as experiências e dinâmicas africanas e asiáticas. Desejamos abordar os efeitos desiguais das mobilidades associadas à escravidão, ao colonialismo e às hegemonias geopolíticas, destacando também os esforços contra-hegemónicos historicamente diversos, desde os movimentos anticoloniais e de não alinhamento até o desenvolvimento complexo de uma consciência global do Sul, exemplificada pelo pan-africanismo e pela experiência do Fórum Social Global, originado na América Latina.

Há muitas vozes, histórias e objectos — tanto em terra quanto sob as águas — que aguardam ser descobertos e narrados neste contexto, potencialmente estimulando novas historiografias transnacionais pertinentes ao momento presente.

Contexto local

Dakar é uma metrópole na ponta ocidental do continente africano, e é também o terminal das antigas rotas comerciais trans-saarianas e da Rota da Seda. Foram descobertos antigos vínculos entre a Ásia e a África, desde artefatos da Ásia Ocidental descobertos na costa de Gana até cerâmicas chinesas encontradas no coração do antigo Império do Mali. Dakar está voltada para o nordeste do Brasil e, além dele, para as Américas Latina, Central e do Norte e para o Caribe, trazendo assim a perspectiva da história oceânica do Atlântico. 

O comércio transatlântico de escravos, cuja história é exemplificada em Gorée, uma ilha ao largo do porto de Dacar, e os impérios coloniais europeus separaram e conectaram a Ásia e a África, principalmente por meio da crioulização racializada no Caribe e em partes do que hoje são os Estados Unidos. Actualmente, as ilhas do Caribe combinam elementos de "heranças" asiáticas e africanas com as das populações indígenas e dos antigos "senhores" europeus. Os envolvimentos imperiais e pós-imperiais franceses resultaram na presença de pequenas comunidades do sudeste asiático no Senegal e no Marrocos, enquanto em partes da África a vitória vietnamita em Diên Biên Phu foi anunciada como "o Dia da Bastilha do colonialismo europeu". Podemos revisitar o eixo África-Ásia pelo prisma das conexões atlânticas?  Existem configurações que possam informar nossa compreensão das conexões que ocorreram no espaço do Oceano Índico?

Uma questão contemporânea aguda é o surgimento ou o ressurgimento de novos projectos hegemónicos na África Ocidental. As iniciativas económicas, políticas e de segurança da China, dos Estados Unidos e também da Turquia, da Rússia e do Marrocos levarão a uma nova "disputa pela África (Ocidental)", desenvolvida talvez às custas da noção anterior de Françafrique?

Grupo 3. Globalização económica: prosperidade ou sofrimento?

Dakar é uma metrópole na ponta ocidental do continente africano, tendo servido também como terminal das antigas rotas comerciais trans-saarianas e da Rota da Seda. Foram descobertos vínculos antigos entre a Ásia e a África, desde artefactos da Ásia Ocidental encontrados na costa de Gana até cerâmicas chinesas descobertas no coração do antigo Império do Mali. Dakar está voltada para o Nordeste do Brasil e, além dele, se abre para as Américas Latina, Central e do Norte, e para o Caribe, possibilitando uma perspectiva privilegiada da história oceânica do Atlântico.

O comércio transatlântico de pessoas escravizadas, cuja história é exemplificada em Goré, uma ilha ao largo do porto de Dakar, e os impérios coloniais europeus separaram e conectaram a Ásia e a África, principalmente por meio da crioulização racializada no Caribe e em partes do que hoje são os Estados Unidos. Actualmente, as ilhas do Caribe combinam elementos das heranças asiáticas e africanas com as das populações indígenas e dos antigos colonizadores europeus. Os envolvimentos imperiais e pós-imperiais franceses resultaram na presença de pequenas comunidades do sudeste asiático no Senegal e no Marrocos, enquanto em partes de África, a vitória vietnamita em Diên Biên Phu foi celebrada como "o Dia da Bastilha do colonialismo europeu".

Este grupo temático propõe reexaminar as conexões entre África e Ásia através da lente das interacções atlânticas. Existem configurações capazes de aprimorar nossa compreensão das interacções que ocorreram no espaço do Oceano Índico? Uma questão contemporânea crucial é o surgimento ou ressurgimento de novos projectos hegemónicos na África Ocidental. As iniciativas económicas, políticas e de segurança empreendidas pela China, Estados Unidos e também Turquia, Rússia e Marrocos podem conduzir a uma nova "disputa pela África Ocidental", possivelmente reformulando a noção de Françafrique?

Contexto local 

Actualmente, na África Ocidental, a presença económica visível de actores chineses, coreanos, japoneses, indianos e turcos gerou uma reavaliação das opções económicas da região para além de suas relações anteriores exclusivas, bilaterais e amplamente neocoloniais com a Europa e, por extensão, com a América do Norte. 

A ascensão da Ásia na região marca uma mudança altamente significativa. No Senegal, bem como nos países vizinhos, o crescimento da economia local e a inclusão na cadeia de suprimentos global resultaram, inegavelmente, em um aumento da desigualdade. Alguns atribuem essas tendências à captura das elites e à interseção de interesses privados e estatais. A vinculação das moedas locais da África Ocidental ao euro perpetua os estrangulamentos neocoloniais, como os expressos na "Françafrique". As recentes crises políticas internas no Senegal e em outros países são, em grande parte, consequência de contradições económicas estruturais.

A questão permanece: crescimento económico para quem, e com que tipo de perspectiva de distribuição colectiva? Qual é o papel dos actores económicos asiáticos? Como instituições asiáticas paralelas, como o Novo Banco de Desenvolvimento e o AIIB, têm oferecido alternativas para as economias africanas? De que forma os esforços conjuntos de asiáticos e africanos vêm contribuindo para superar ou enfrentar os obstáculos internacionais rumo a um desenvolvimento mais equitativo na África Ocidental e em outras partes do continente?

Grupo 4. O papel das comunidades locais: a sociedade contra os Estados e as corporações? 

As discussões podem incluir a forma como as comunidades locais abordam questões de "viver junto", bairros e vizinhanças, migração rural-urbana-periurbana, infraestruturas, políticas públicas para transformação urbana, as formas de vida próximas a fronteiras naturais, como as costas e as montanhas. A questão da "agencialidade" ao nível das comunidades locais e novas formas possíveis de identidade coletiva "de baixo para cima", considerando as formas tradicionais de bairros-comunidades, tal como existem nas culturas populares com as noções de "Kampung" (Bahasa Indonésia), "Yan" (Tailandês), "Jamano" (Soninké), "Lamanat" (Wolof e Serer), "Kafu" (Manding), "Lamu" (Fulbe), etc., e a forma como estas podem ser incluídas em projetos de desenvolvimento inclusivos, oferecem novas perspetivas, nomeadamente pela reabilitação do papel dessas comunidades muitas vezes marginalizadas ou apagadas da memória coletiva.

Contexto local

As comunidades das cidades da África Ocidental são estruturadas em torno de configurações comunitárias, frequentemente ignoradas pelos estados e corporações envolvidos na apropriação de terras e outros fenómenos de deslocamento. Empresas imobiliárias chinesas, turcas e indianas especulam com construções em arranha-céus para uma nova classe média urbana, enquanto extensas áreas rurais são absorvidas por grupos como a indiana na bacia do rio Senegal. Mesmo iniciativas bem-intencionadas, como a preservação da "Langue de Barbarie" contra invasões do mar na cidade senegalesa de Saint-Louis, frequentemente negligenciam as necessidades dos pescadores locais e outros residentes.Há casos bem-sucedidos de comunidades que conseguiram articular e proteger seus interesses locais contra agentes estatais e corporativos, fazendo com que integrem o "local" em seus projetos? Como interpretar o surgimento de poderosos actores não-estatais que desafiam o Estado em nações do Sahel, como Mali e Burkina Faso?

Grupo 5. Criação de conhecimento: instituições, objectos, propriedade cultural

O assunto deste grupo temático é a produção, a transmissão e a circulação do conhecimento em uma era pós-colonial, multicêntrica e (possivelmente pós) neoliberal. Além das universidades e do foco actual em sua classificação (ranking) internacional em vez de seu papel local como agentes de coesão social, há canais alternativos de criação e circulação de conhecimento, incluindo inovações no currículo, na pedagogia e no conhecimento experimental.

O papel dos museus, bibliotecas e arquivos mudou, os telemóveis e as médias sociais expandiram seu alcance e surgiram novos locais de aprendizagem, muitas vezes informais.  O futuro da pesquisa e da educação digital, bem como o papel cívico das artes, também são relevantes. Que problemas e perspectivas surgem com a diversificação das fontes de conhecimento e como eles podem ser gerenciados?

Contexto local 

Embora o número de jovens que frequentam a universidade tenha aumentado com o crescimento da população, apenas uma pequena minoria dos jovens da África Ocidental está matriculada no ensino superior. O actual sistema educacional e académico foi construído com base nos padrões ocidentais, em um contexto colonial de criação de conhecimento de elite e com um sistema de especializações posteriormente influenciadas pelo Banco Mundial ou pelo FMI.  Actualmente, programas públicos nacionais e regionais estão trabalhando para definir um modelo universitário específico para a África, como, por exemplo, a Associação de Universidades Africanas (AAU), a Aliança de Universidades Africanas (ARUA), em Acra, e o Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciências Sociais na África (CODESRIA), em Dakar. 

Além disso, as iniciativas da sociedade civil são fontes importantes de conhecimento, pois questionam e vão além dos legados colonial e neocolonial. Por exemplo, o Institute of African Studies (Instituto de Estudos Africanos) da Universidade de Gana, fundado em 1961, promove formas indígenas e vernáculas de geração de conhecimento humanístico, outras iniciativas para "africanizar" o conhecimento incluem o CODESRIA (1973), a plataforma Global Africa (GA) da Universidade Gaston Berger, a General History of Senegal (HGS), bem como projectos de "base" como a Raw Material Company em Dakar, que promove o conhecimento por meio de expressões artísticas oriundas do tecido social comunitário. Vale ainda mencionar iniciativas musicais, como a do grupo Biddew bou bess, pioneiros em uma mistura criativa de bits afro-asiáticos. 

Além disso, é fundamental desconstruir a "Biblioteca Colonial" e descolonizar o conhecimento, reconhecendo que este processo foi, em parte, uma articulação das forças africanas e coloniais. A emancipação epistêmica no Sul Global proporcionaria aos povos africanos e outras comunidades a capacidade de reflectir, teorizar, interpretar e escrever, sobre o mundo, a partir de suas próprias perspectivas sociais e culturais, desenvolvendo "novos eixos de conhecimento" enraizados em outros contextos e experiências.

Grupo 6. Artes,média (digital) e cultura: criatividades, Contestações e Colaborações

A questão da propriedade cultural e da restituição de artefactos e antiguidades entre estados-nação desafia as perspectivas legais tradicionais, as políticas de governação e as práticas museológicas, especialmente no Norte. Simultaneamente, a média digital independente acelerou as trocas e intensificou as contestações em torno de políticas identitárias, muitas vezes com consequências altamente polarizadoras. Paralelamente, um espaço ampliado oferece oportunidades para artistas de méda, denunciantes on-line, educadores públicos e defensores associados a movimentos sociais em diversas sociedades africanas e asiáticas.

Além de propostas que avaliem criticamente o papel das artes, da média e da cultura na Ásia e na África, questões relacionadas a "de quem é a voz" e "de quem é a herança" são de suma importância para este grupo temático. Também serão bem-vindas contribuições de artistas, designers, cineastas, escritores, dramaturgos e intérpretes que explorem formas de expressão cívicas e populares. Incentivamos contribuições oriundas de diversas áreas e profissões, incluindo publicitários, arquitetos e curadores, entre outros, envolvidos em projetos na Ásia e na África.

O contexto local

Na África Ocidental, assim como em muitas regiões do mundo, o debate sobre a restituição de obras de arte, saqueadas durante as conquistas coloniais europeias, originalmente liderado pelos próprios europeus, tem produzido discussões sobre as tradições culturais perdidas na África, a questão da responsabilidade política e pública, a representação e a crescente lacuna entre os discursos oficiais e as opiniões e necessidades das comunidades. 

Por exemplo, os jovens nos centros urbanos, adoptando uma estética cultural em desacordo com a lógica pós-colonial, perpetuam uma tradição de protesto político por meio de música, dança e grafite, em espaços públicos, vividos como espaços dinâmicos de contestação. 

Nas últimas décadas, também as plataformas digitais e as média sociais se tornaram espaços vitais para a experimentação criativa e a expressão de dissidência entre os jovens senegaleses e da África Ocidental.  Abordando as média sociais como uma extensão do espaço público, ou como um espaço intermediário entre o público e o privado. Este grupo temático propõe reflectir sobre como as artes, a cultura e as redes sociais (tanto on-line quanto off-line) estão contribuindo para formas alternativas de colaboração e protesto, criando uma base inovadora de conhecimento na África e na Ásia.

Grupo 7. Ontologias múltiplas: religiões, religiosidades, filosofias e idiomas

O papel da religião na vida quotidiana é fundamental para analisar as semelhanças e diferenças entre a Ásia e a África. Enquanto a religião sustentou o controlo dos Estados, os idiomas nacionais ou oficiais de origem colonial contribuíram para marginalizar os idiomas e sistemas de crenças indígenas e outras, assim como suas práticas e costumes culturais. Paralelamente, os movimentos de descolonização, e direitos humanos exigem uma cuidadosa consideração do contexto e do pertencimento cultural para compreensão e formulação da cidadania. A religião ocupa, portanto, uma posição complexa: por um lado, foram perpetrados abusos com motivação política em seu nome, ao passo que, por outro lado, a religiosidade pode ser uma fonte de esperança, resiliência e transcendência.

O contexto local

A religião, especialmente o Islã, desempenha um papel crucial na mediação e regulação de conflitos políticos e culturais na sociedade senegalesa. Esse papel tem se expandido em meio a divergências entre as gerações mais jovens sobre sua natureza e forma. Há múltiplas conexões entre as comunidades muçulmanas do norte e oeste da África e as comunidades dos países do sudeste asiático, especialmente na Indonésia e Malásia. Além disso, há ao mesmo tempo, uma redescoberta de "crenças animistas" em ambos os continentes, buscando promover maneiras de reencantar e reequilibrar as relações entre os seres humanos e o meio ambiente natural. Iniciativas na África Ocidental também visam revitalizar as línguas e os dialectos vernaculares marginalizados, com o objectivo de reintroduzir sistemas de valores locais, visões de mundo e cosmologias.

Grupo 8. Negociando (nas) margens: poder, agências, representações, resistências

Como sugere a antropóloga Anna Tsing, as margens nos forçam a pensar sobre a "vida criativa no limite", ajudando a lidar com actos de poder decorrentes das desigualdades estruturais de raça, casta, religião, etnia e género que persistem nos níveis regional, nacional e global. Infelizmente, a repressão e a violência são abundantes, muitas vezes nas mãos do Estado-nação, que alegava apoiar a cidadania como uma ideia universal. stAs formas de marginalização e a representação dinâmica, a agência e a resistência que elas geram são confrontadas com o exercício desenfreado do poder na Ásia e na África do século XXI.

O contexto local 

A mobilização e a radicalização da juventude senegalesa e da África Ocidental, auxiliadas pela interacção social mediada pelas novas tecnologias, estão resultando em dispositivos sociais, políticos e culturais criativos com o objectivo de reivindicar agência em sociedades caracterizadas por valores patriarcais e fortes hierarquias coloniais e neocoloniais. Apresentando-se como uma categoria esquecida e marginalizada, esses jovens buscam desempenhar o papel de protagonistas da transformação e da mudança social. 

Nesta secção, as contribuições podem explorar em que medida uma abordagem crítica e comparativa ao longo do eixo de pesquisa da África e da Ásia pode ajudar a elucidar o potencial de inclusão específico de cada contexto, assim como os desafios distintivos presentes nas sociedades da África Ocidental.

Grupo 9. Paisagens alimentares: cultivo, meios de subsistência, gastronomia, intercâmbios agroculturais, apropriações

Este grupo temático abrange discussões sobre a produção de alimentos orgânicos, resiliência, segurança alimentar e sustentabilidade, comparando agricultura natural e industrial, além de explorar a diferença entre agricultura de subsistência e comercial. Reúne também o debate sobre sementes e culturas geneticamente modificadas versus indígenas, e a expansão de alimentos básicos como arroz e trigo, incluindo a recente valorização do painço pela ONU. Serão discutidos temas como processamento e embalagem de alimentos, tradições alimentares e crenças, impactos do turismo alimentar, vendedores de comida de rua e feiras de alimentos vitais em diversas partes da Ásia e da África.

Os participantes que optarem por este recorte poderão examinar mudanças nos hábitos alimentares em contextos urbanos, muitas delas impulsionadas pelo surgimento de aplicativos de entrega durante a pandemia, que ampliaram as cadeias de fast-food. Este movimento é contrastado por iniciativas como o slow-food e o vegetarianismo, assim como pelo crescimento de restaurantes étnicos e programas de televisão sobre culinária. Outras possibilidades de enfoque incluem o comércio agrícola global e os valores que moldam a produção e o consumo de alimentos.

Convidamos ainda a considerar o intercâmbio e as práticas alimentares compartilhadas entre África e Ásia desde os tempos pré-históricos, influenciados sobretudo por Madagáscar, que funcionou como um ponto de encontro ecológico-cultural crucial no Oceano Índico. Este local histórico foi afectado pelas importações de alimentos básicos das Américas, demonstrando uma interconexão global duradoura.

O contexto local

A cultura culinária do Senegal foi profundamente influenciada por nações do norte da África, da Europa e da Ásia, além de diversos grupos étnicos locais, com os Wolof sendo o maior deles. Recentemente, a herança culinária da África Ocidental destacou três pratos amplamente conhecidos e amados no Senegal, promovendo uma conscientização sobre receitas, ingredientes, práticas culinárias e espaços de intercâmbio transnacional.

Um dos pratos mais emblemáticos é o Thiéboudienne, especialidade de peixe e arroz rotulada como o prato nacional senegalês, com raízes na culinária de arroz quebrado dos países do sudeste da antiga Indochina Francesa. Além disso, o Yassa, com seu molho à base de cebola servido sobre arroz, e o Mafé, um ensopado de carne com molho de tomate e amendoim, também possuem equivalentes em outras tradições culinárias.

A história dessa culinária está intrinsecamente ligada às mudanças nas práticas agrícolas senegalesas, especialmente decorrentes da experiência colonial. Um prato relativamente novo, o Nem, derivou dos rolinhos primavera que os fuzileiros senegaleses e suas esposas trouxeram do Vietnã. Os pastéis recheados com carne picada e aletria são conhecidos como "pão chinês". 

Este grupo temático busca evidenciar como o entendimento integrado das culturas alimentares e de subsistência africanas e asiáticas pode promover a inclusão e a emancipação entre diversos grupos da região.

Grupo 10. Bem-estar, Desporto (futebol!), Medicina, Bem-estar na morte (o que é uma boa morte hoje?)

Este grupo temático se concentra em temas como infecção, doença, nutrição, higiene, saneamento, confinamento, culturas de cuidado, reprodução, cura, nascimento, morte, eutanásia, dor, emoções traumáticas, bem como noções de mente e corpo, não apenas dentro de diversos sistemas de saúde, mas também na governança da saúde pública em nível local, nacional e global. Os tópicos incluem questões como a negociação entre o Estado e as comunidades para promoção de saúde preventiva por meio de plataformas digitais de vigilância biológica, ou por meio de plataformas participativas que envolvem organizações não governamentais e profissionais que atuam no setor de saúde pública.

Os tópicos relacionados são a coexistência de práticas de saúde formais e informais, o papel dos profissionais locais em épocas de epidemias de saúde, tensões culturalmente sensíveis em torno de práticas de sepultamento e crenças sobre a vida após a morte. 

Também são bem vindas contribuições sobre desportos profissionais no contexto neoliberal global, incluindo o lugar das mulheres no sector desportivo, bem como a história e a sociologia de desportos populares como futebol, basquetebol, hóquei em patins e entre as populações asiáticas e africanas. A cultura do futebol, em particular, constitui um ponto focal de comparação e conexão entre ambos. 

Outra área de interesse é a relação entre o bem-estar e o crescimento global das tecnologias e dos sectores de bem-estar. Discussões sobre o desenvolvimento de sistemas adequados de assistência médica e geriátrica são bem-vindas. Como as sociedades africanas e algumas asiáticas, que ainda experimentam um forte crescimento demográfico, podem atender às necessidades futuras, não apenas em termos de oportunidades educacionais e profissionais, mas também em termos de assistência médica e provisões para populações que estão envelhecendo, populações jovens, bem como em termos de vigilância biológica durante epidemias?  Há preocupações associadas ao papel do desporto, da saúde e da gastronomia como motores do crescimento económico.

O contexto local

Os sistemas de saúde da África Subsaariana e Ocidental há muito tempo sofrem com uma dupla praga de doenças transmissíveis e não transmissíveis e, mais recentemente, com a pandemia da COVID-19. Apesar dos avanços nos cuidados com a saúde em todo o mundo, a região continua a ficar para trás. A COVID-19 revelou o mau funcionamento do sistema de saúde em todo o mundo e particularmente na África. A China esteve profundamente envolvida durante a pandemia, conduzindo uma "diplomacia de vacinas" ativa no centro de uma nova estratégia de "Rotas da Seda da Saúde". Circularam imagens na média de máscaras e outros equipamentos de proteção em caixas com uma bandeira chinesa em destaque, e hoje as missões médicas chinesas continuam a reforçar a imagem da experiência médica chinesa na África. Enquanto isso, médicos e centros médicos asiáticos, serviços de massagem e acupuntura foram abertos em Dakar. Em um ambiente demograficamente "jovem" como o da África Ocidental, as questões associadas ao envelhecimento e à velhice podem parecer uma preocupação menos urgente. Nesse aspecto, também, um diálogo com essas questões nas sociedades asiáticas poderia ser útil.

Grupo 11. "Pan-africanismo", "Espírito de Bandung", futuros do "Sul Global" e a nova ordem mundial

Esse grupo busca reunir contribuições que se envolvem directamente com as ideias e promessas articuladas pela primeira vez na Conferência Afro-Asiática de Bandung, na Indonésia, em 1955, seguida pelo apelo à unidade entre as nações africanas por meio da noção ambiciosa de pan-africanismo. 

O conceito de solidariedade afro-asiática nem sempre surge naturalmente. Tem havido questionamentos sobre a invocação dessas solidariedades para obter ganhos políticos e interesses próprios. A inclusão da África na "Iniciativa Cinturão e Rota" da China deu à iniciativa um carácter "sulista" mais claro, sintetizado pela aliança BRICS em expansão. Há uma percepção emergente de interesses e pontos de vista compartilhados entre as diferentes regiões do "Sul" do Sudeste Asiático, da África, do Oriente Médio e da América Latina, ligados à noção de um "Sul Global" vivo. No entanto, a incorporação desses interesses no cenário internacional por países como a China, a Índia e a Rússia deixou muitos confusos ou cépticos, especialmente em sua contraparte, o Norte Global.  Portanto, há um interesse crescente entre os especialistas académicos e políticos na questão do Sul Global, tanto como conceito quanto como prática política transregional na Ásia e na África. 

O contexto local

O clima político actual nos países da África Ocidental, especialmente no Senegal, gira em torno da possibilidade de os países da região se emanciparem dos resquícios da exploração neocolonial-neoliberal. Há um forte desejo de reimaginar um projecto democrático e de desenvolvimento construído sobre bases locais e culturalmente sensíveis. A presença global da Ásia, concomitante ao declínio relativo, pelo menos nas percepções locais, do Ocidente e de suas instituições, a revolução digital e a melhoria geral da infra-estrutura básica, muitas vezes graças aos investimentos chineses e asiáticos, criaram uma maior consciência colectiva e uma politização do desenvolvimento social em seu sentido mais amplo.

No Senegal, a crise política dos últimos três anos, antes da eleição do Presidente Diomaye Faye, em Março de 2024, nasceu do surgimento de um poderoso movimento de oposição popular cuja mensagem reflecte essas aspirações emancipatórias, especialmente entre os jovens.  Esse grupo aborda os desafios muitas vezes concorrentes enfrentados pelos países do Sul Global, os fardos de suas estruturas e instituições políticas do passado e os imaginários emancipadores do futuro, especialmente à luz de comparações e intercâmbios.

Grupo  12. 'AfricAsia' em um mundo emaranhado: Migrações, Diásporas, Criolidades

Nesta era de emaranhamento humano global, africanos, asiáticos e "afro-asiáticos"/"afrasianos" hifenizados ou amalgamados constituem uma realidade humana global que incorpora expressões de conexões íntimas e processos de hibridização. Esse fenómeno não é novo, já que a experiência das sociedades marítimas e insulares do Oceano Índico, do Caribe, do extremo sul e das regiões orientais do continente africano é longa. A renovação das interconexões afro-asiáticas já é forte no âmbito cultural e artístico, bem como nos campos da moda, da música e dos desportos. Esse grupo acolhe explorações de tais temas, tanto do passado quanto do presente, especialmente no que se refere à autoconsciência, à autoexpressão e às identidades das comunidades, com seus possíveis efeitos na sociedade em geral. 

O contexto local

O Senegal, mas também o Marrocos, Mali, Guiné e outros países da África Ocidental, têm uma conexão especial com os povos da antiga Indochina colonial (Camboja, Laos e Vietnã). Muitos Tirailleurs (atiradores de elite) senegaleses foram enviados pelos ocupantes franceses para lutar contra o movimento de independência do Vietnã na década de 1950. Alguns deles voltaram para casa com suas esposas vietnamitas, o que levou ao crescimento de uma comunidade senegalesa-vietnamita, de pequena escala mas vibrante. Hoje, a esses "senegaleses-asiáticos" vem se juntar chineses e indianos de primeira geração que vieram trabalhar e fazer negócios na África Ocidental. Simultaneamente, comerciantes senegaleses estão presentes nas metrópoles asiáticas de Dubai, Bangkok e Guangzhou. Sem dúvida, eles também contribuirão para a expansão da comunidade senegalesa-asiática, cada vez mais diversificada em suas origens. Como compreender esse crescente grupo social e as formas de subjectividade asiático-africana na África Ocidental e além? 

Prazo

As propostas poderão ser apresentadas em inglês, francês ou português. A data-limite para o envio on-line é 1 de outubro de 2024. 

Nova data-limite para submissões: 25 de outubro

 

Feira de livros, artes manuais e alimentos África-Ásia

Editoras e institutos são convidados a expor na Feira de Livros, Artes Manuais e Alimentos na África-Asia 3 para apresentar seu trabalho ao público em geral. Caso tenha interesse em expor na África-Asia 3, envie-nos um e-mail: ÁfricaAsia@iias.nl

Informações

Para quaisquer dúvidas sobre o África-Asia 3, consulte nosso site em https://www.iias.asia/event/África-asia-new-axis-knowledge-third-edition ou entre em contacto connosco pelo e-mail ÁfricaAsia@iias.nl